sábado, 23 de fevereiro de 2013

Diálogo e dialética: semelhanças e diferenças

José Benedito de Barros*

As palavras são semelhantes. Mas será que são sinônimas?

Este texto pretende elucidar a questão, fundamentando-se no dicionário filosófico de Nicola Abbagnano.

A palavra diálogo é de origem grega. Sua escrita em latim é “dialogus”. Trata-se de uma conversa, uma discussão, uma investigação conjunta.

Platão utilizava a forma dialógica para exprimir suas ideias. Basta ler um de seus livros para entender isso. Livros como Fédon, A República e Leis podem ser citados como exemplos.

A palavra dialética também é de origem grega e é derivada de diálogo. Por isso muitas vezes há certa confusão, a ponto de muitos falarem da dialética platônica, citando como exemplo disso os diálogos presentes em suas obras. Mas a dialética vai muito além do diálogo, embora seja derivado dele. Além disso, a palavra “dialética” tem vários sentidos, ora mais próximo da palavra diálogo, ora se distanciando. Temos a dialética como método de divisão; a dialética como lógica do provável; a dialética como lógica; e a dialética como síntese dos opostos.

A dialética como método de divisão é conceito platônico. Platão entende a dialética como “técnica da investigação conjunta, feita através da colaboração de duas ou mais pessoas, segundo o procedimento socrático de perguntar e responder” (Abbagnano, 2000, p. 269). Essa investigação tem como propósito possibilitar uma progressão que parte do senso comum ou opinião (doxa) até se chegar ao entendimento elevado, a ciência (episteme). A dialética, neste sentido é entendida como método de investigação, partindo-se sempre da de uma hipotética dualidade da realidade (luz x sombra; opinião x ciência; dia x noite).

A dialética como lógica do provável foi mencionada por Aristóteles. A palavra provável significa que a existência de algo é aceita como possível, mesmo que ninguém ainda tenha demonstrado sua existência. Ele chama de dialético o raciocínio que tem como ponto de partida uma premissa provável e não demonstrada.

Vamos tentar criar um exemplo: é provável que haja planetas habitáveis em outros sistemas solares; assim, caso a habitação no planeta terra se torne inviável, pode-se promover uma envio de pessoas para aqueles planetas. A premissa provável aqui é: planetas habitáveis em outros sistemas solares”.

A dialética como lógica é tratada pelos estoicos. A lógica, aqui, é entendida como “a ciência do discutir corretamente nos discursos que consistem em perguntas e respostas”. É uma retomada dos diálogos platônicos. Para os estoicos existem, então duas maneiras de discutir, de dialogar: uma, espontaneista, sem atenção às regras do raciocínio correto; e outra que segue as regras do raciocínio correto. Então, para os estoicos, dialética é lógica.

Finalmente, temos a dialética como união dos opostos. O grande sistematizador desse conceito foi o filósofo Hegel. Depois dele vieram Marx e Engels.

A tradução da dialética hegeliana em tese, antítese e síntese causa certa confusão. Isto porque a tese é a afirmação; a antítese é a afirmação que se contrapõe à tese; mas a síntese não é a junção das duas primeiras, mas sua superação. Trata-se de uma nova afirmação (uma nova tese), uma tese mais elaborada.

A dialética hegeliana expressa o movimento das ideias, do pensamento. Esse movimento, segundo Hegel se concretiza na realidade, na história. Ou seja, o pensamento cria a realidade.

Karl Marx adota o método dialético, mas inverte o ponto de partida. Para Marx o ponto de partida é a realidade, pois é esta que cria o pensamento e não o contrário.

Exemplo de realidade:
Tese: Escola tradicional;
Antítese: Escola escolanovista;
Síntese: Escola marxista (que contem elementos da escola tradicional e da escola nova, mas não é a junção das duas, mas sua superação).

Palavras finais

Voltemos à questão que norteou nosso texto, que é verificar as semelhanças e diferenças entre diálogo e dialética.

Vimos que as semelhanças ocorrem principalmente no conceito platônico de dialética, que é derivada do conceito de diálogo. Ou seja, Platão utiliza o diálogo (conversa e discussão) como técnica de pesquisa e investigação.

O conceito moderno de dialética se afasta do conceito de diálogo, uma vez que a ênfase está no confronto de pensamentos, propostas, de realidades, de classes, sempre com a perspectiva de superação.

Fonte:
Abbagnano, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.


*José Benedito de Barros: Mestre em Educação (Unesp), Especialista em Direito; Bacharel em Ciências Jurídicas; Licenciado em Filosofia.


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